terça-feira, 23 de junho de 2009

MODELO DE ESCRITÓRIO NA ABORDAGEM DE TAYLOR-FORD

Prof. Esp. Alcenisio Técio Leite de Sá
I - Introdução.
Se fizermos um breve passeio pela história (e evolução histórica) dos escritórios, à luz de Braverman (1981), vamos conseguir entender um pouco mais e melhor do porque de nossas organizações ainda serem palcos da opressão que são hoje. Ainda, entenderemos com melhor acuidade a questão do sofrimento, bem como veremos que é uma falácia que na modernidade este sofrimento foi minimizado (ou eliminado) a partir dos novos processos que vieram a reboque da tecnologia e da informatização.
II - Os Escritórios da Era Taylor.
Para começar é bom lembrar que os modelos gerenciais da maioria dos escritórios da contemporaneidade, ao que tudo indica, ainda repetem o modelo taylorista-fordista cuja tônica e foco são os aspectos econômicos instrumentais, observávtutorialeis e quantificáveis desenvolvidos no século XIX.
Os escritórios como conhecemos hoje surgem nas últimas décadas do século XIX, no seio da Revolução Industrial. Hoje encontramos milhões de trabalhadores em escritórios, mas nem sempre foi assim. Os profissionais de escritórios, em seu início, tinham uma relação com seu patrão quase que feudal. Porém, estes profissionais eram muito mais que empregados. Eles eram tidos como um membro da família de seus chefes.
Os trabalhadores dos escritórios, há 150 anos atrás, tinham certo prestígio; e, sua função era confidencial e, frequentemente, o empregador discutia com seu funcionário do escritório os negócios e confiava em sua opinião e julgamento; não raro eram os casos, desse profissional, vir a ser um sócio ou casar-se com a filha do empregador. Assim, poder-se-ia dizer que tal profissional era respeitável e um digno membro da classe média da época.
Eram profissionais dotados de autoridade, salário, estabilidade no emprego e perspectivas de crescimento. Os funcionários dos escritórios, via de regra, eram: contadores, secretárias, estenógrafos, caixas, caixas de banco, arquivistas, telefonistas, mecanógrafos, serviço de pessoal, estafetas, recepcionistas, almoxarife, datilógrafos e semelhantes. (Braverman, 1981:251)
Os escritórios da primeira fase, o trabalhador, basicamente, funcionava (enquanto ferramenta de trabalho) com uma caneta tinteiro, papel, envelope, livros, etc. O objetivo principal do trabalhador, dessa fase, era manter em dia os registros e as condições financeiras e operacionais da empresa, assim como as relações com o mundo externo”. (Braverman, 1981:254)
Os processos eram simples e o aprendizado direto, bem como as promoções seguiam um curso natural e obedecia a um ritmo próprio de crescimento do empreendimento e da burocracia.
Na medida em que as empresas vão se transformando em corporações “as funções assumem formas especiais e se dividem entre departamentos diversos, setores e seções da empresa”. (Braverman, 1981:254)
TRANSFORMANDO CÉREBROS EM MÃOS E O SURGIMENTO DA GERÊNCIA CIENTÍFICA DE TAYLOR.
Com o desenvolvimento do capitalismo, os empreendimentos comerciais, industriais e outros foram crescendo junto, bem como se transformando. Diferentemente do comércio e da indústria, onde existe outro tipo de mão de obra, os bancos e as agências de crédito representaram, na época, um bom exemplo do surgimento e do crescimento dos funcionários que trabalhavam exclusivamente em escritórios.
Com a transformação e as mudanças nos processos de produção do modelo capitalista, onde o conceito de organização começa a imperar nas empresas, dá início ao surgimento nos escritório os primeiros gerentes científicos.
O gerente científico era o profissional praticante da gerência científica aplicada ao escritório, segundo os conceitos de Taylor.
Antes da implantação do conceito científico nos escritórios, os funcionários faziam seu próprio trabalho de acordo com os métodos tradicionais, julgamento independente e ligeira supervisão. No moderno conceito científico, o trabalho passa a ser (receber) diretrizes dadas pelo gerente, e seus métodos e tempo de duração passam a ser verificados e controlados com base no estudo de cada tarefa/função. (Braverman, 1981:260-261)
Ainda, o grau de lealdade que caracterizava o escritório da primeira fase, foi substituído por um distanciamento “de vínculos” e colocado em seu lugar à disciplina impessoal. A partir daí, a gerência começou a exercer o seu direito de controle, até então pouco utilizado ou esporadicamente exercido. (Braverman, 1981:259)
Com a mecanização dos escritórios, o que antes era feito de forma mental (trabalho mental) o trabalho passa a ser esvaziado. O princípio do esvaziamento, segundo Braverman (1981:268-269), se dá na medida em que o trabalho assume a forma de produto externo. Ou melhor, o trabalho deixa de ser cerebral e passa a ser (receber) símbolos lingüísticos, números, senhas e etc.
Na verdade, a esta altura o capitalismo via o trabalho (a oferta de trabalho) como uma mercadoria e, a partir daí o trabalho assalariado passa a ser comprado em larga escala no mercado de trabalho. Neste momento instaura-se um processo consciente de despersonalização do trabalhador, bem como das relações interpessoais e grupais, a ponto dos trabalhadores, a partir da lógica mecanicista serem vistos como recurso.
(...) o trabalho de pessoas instruídas ou mais bem pagas jamais deve ser “desperdiçado em assuntos que podem ser feitos para eles por pessoas menos instruídas. (...) os de pouca ou nenhuma instrução são superiores para o desempenho do trabalho rotineiro em primeiro lugar porque “podem ser comprados a preço baixo”, e em segundo porque imperturbados por coisas em demasia em seus cérebros, farão as rotinas correta e fielmente. (Babbage, 1963:195)
É errado pensar que o sofrimento, a alienação e o esvaziamento são emoções sentidas somente nas fábricas na chamada Revolução Industrial, pelos trabalhadores daquele período, bem como é errado pensar que o welfare state trouxe ao trabalhador qualidade de vida. Isto é uma balela!
A mecanização dos escritórios transformou (em sua segunda fase) o cérebro dos trabalhadores em mãos, por conta dos processos repetitivos e em série. O passo seguinte dessa transformação dos escritórios foi à eliminação total do ato de pensar.
OS ESCRITÓRIOS TAYLORIZADOS DA MODERNIDADE, CAPITALISMO E ALIENAÇÃO.
Quero quer que, até os dias de hoje (e até por depoimentos que tomo de profissionais de RH e outros), não conseguimos nos desprender desse modelo que desqualifica do trabalhador (sua inteligência, emoção, afetividade e criatividade) em prol de uma pseudo produção / produtividade e a reduz a simples extensão de uma máquina qualquer dos escritórios.
O trabalho, mesmo com toda a tecnologia e os avanços em diversas áreas, na contemporaneidade, sofre ainda do mal da alienação e da opressão, na medida em que os donos do capital só querem dos trabalhadores suas mãos. E, portanto, não estão preocupados com suas almas, emoções, expectativas, sonhos, etc.
Os profissionais de RH, bem como todos os gestores devem se conscientizar do aspecto subjetivo do trabalhador, bem como das questões mencionadas acima. Do contrário teremos empresas sem alma, emoção, criatividade, alegria e espontaneidade.
REFERÊNCIA:
BRAVERMAN, Harry. Trabalho e Capital Monopolista: A Degradação do Trabalho no Século XX. 3ª Edição. Jorge Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1981.
www.tecioleite.blogspot.com Cel: 98 - 8849-1570

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