segunda-feira, 14 de setembro de 2009

CASES DE EMPREENDEDORES DE SUCESSO

1.SÍLVIO SANTOS
Silvio Santos é um ícone da televisão brasileira. Os anos passam, os ídolos populares se sucedem, os concorrentes mudam e ele permanece lá, como a mais perfeita tradução de um domingo à brasileira. É um dos rostos mais conhecidos do país e também – Rarraiiii! – a voz mais familiar aos ouvidos de milhões. Silvio é ainda uma versão do self-made Man, o homem que conseguiu sozinho um lugar ao sol. É até mesmo considerado por muitos um herói do capitalismo nacional. De camelô tornou-se um grande empresário, dono de nada menos que 33 empresas.

A sensibilidade do empresário para lançar programas de apelo popular deve-se em boa parte à sua história de vida. Não por destino, mas por opção, ele esteve em contato com os humildes desde o início de sua carreira. Ao contrário do que se pensa, Silvio não teve uma infância pobre nem precisou largar os estudos para trabalhar.

Seu pai, o grego Alberto Abravanel, era proprietário de uma loja de artigos para turistas e sua mãe, a imigrante turca Rebeca, era dona-de-casa. A família, de origem judaica, morava perto do centro do Rio de Janeiro, num imóvel confortável. Silvio, o mais velho de uma prole de seis filhos, fez o pré-primário quando isso era um luxo e prosseguiu nos bancos escolares até se formar técnico em contabilidade. Parou de estudar porque estava ansioso para dar vazão ao talento de negociante que se manifestara precocemente.

Quando tinha 14 anos, Silvio viu o Estado Novo de Getúlio Vargas cair e a democracia ser reimplantada no Brasil. Alguns jovens aproveitaram a efervescência da época para embarcar em projetos políticos. Ele enxergou o momento sob outra perspectiva. Como as pessoas tinham de renovar seus títulos de eleitor, resolveu vender capinhas de plástico que servissem para guardar os documentos. Lembra até hoje que elas custavam 3 cruzeiros e que as revendia por 5. Animado, passou a vender canetas e outras bugigangas. Aos 18 anos, Silvio já era um dos camelôs mais famosos do centro do Rio de Janeiro. Ganhava três salários mínimos por dia.

Não era o bastante. Ele percebeu que poderia explorar comercialmente o tédio das pessoas que viajavam nas barcas entre o Rio e Niterói. Convenceu, então, os administradores do transporte a deixá-lo tocar um serviço de alto-falantes em uma das barcas. Silvio executava músicas durante o trajeto e, nos intervalos, veiculava anúncios que vendia a bom preço. O negócio começou a ir tão bem que ele montou um bar para atender os passageiros. Mas a barca quebrou – e, com ela, também o negócio de Silvio. Endividado, foi para São Paulo, onde se pôs a trabalhar como locutor de comerciais radiofônicos. Nos intervalos, vendia anúncios em calendários que mandava confeccionar aos milhares.
Aqui um parêntese: ele já chegou à capital paulista com o pseudônimo artístico. Quando morava no Rio, uma de suas maneiras de ganhar dinheiro era participando de concursos de locução. O vencedor sempre levava da rádio um prêmio em dinheiro. Silvio ganhou doze seguidos, até que se viu proibido de participar deles. Foi num desses concursos que adotou o pseudônimo. Ao apresentar-se a um radialista como Silvio Abravanel (sua mãe preferia Silvio a Senor), ouviu que o nome não soava bem. "Vamos chamá-lo de Silvio Santos", disse o sujeito, sem maiores explicações. E assim foi.

Em São Paulo, com as finanças equilibradas, Silvio voltou a ser dono de bar, no centro da cidade. Como investia tudo o que ganhava em seus pequenos negócios, não se permitia nenhum luxo, por menor que fosse. Aluguel de casa, por exemplo, nem pensar. Dividia um quarto de pensão com um ex-jogador de futebol. Foi expulso de lá depois de ser pego pela proprietária com uma mulher na escada.
A grande virada veio no final de 1957. Um ano antes, Manoel da Nóbrega, dono de um programa na mesma rádio em que Silvio trabalhava, a Nacional, tornou-se sócio de um comerciante chamado Walter Scketer, que imaginara um projeto interessante: um baú de brinquedos que seria vendido em forma de carnê por doze meses. O alvo eram pais modestos, que assim poderiam proporcionar a seus filhos um Natal inesquecível. Nóbrega entraria com a sua credibilidade e com os anúncios. Scketer, com a sua experiência em administração.

Quando chegou dezembro, porém, dos 800 compradores, apenas 500 receberam os baús que haviam comprado. Scketer sumiu do mapa, deixando Nóbrega a ver navios. As rádios concorrentes e os jornais passaram a referir-se ao sócio enganado como caloteiro e picareta. Desesperado, Nóbrega vislumbrou a salvação em Silvio Santos. A princípio hesitante, Silvio topou assumir a encrenca, pressionado pela primeira mulher, Maria Aparecida, que viu naquilo tudo uma boa possibilidade. Começava aí a história de sucesso do Baú da Felicidade, base do império do empresário.

"Peru que fala" – Para impulsionar o Baú nos primeiros tempos, Silvio bolou um esquema chamado Caravana do Peru (como sempre ficava vermelho com as brincadeiras que seus colegas faziam, seu apelido na rádio era o "peru que fala"). A Caravana do Peru funcionava assim: Silvio promovia shows em praças públicas, no qual havia sorteios de prêmios e apresentações de artistas conhecidos. Entre as atrações, ele vendia carnês. Foi nas caravanas que Silvio lapidou seu estilo de apresentador com o qual hipnotiza as platéias até hoje. É um estilo que, por sinal, intriga os estudiosos. "Ele tem a capacidade de mostrar o ridículo e o patético da personalidade humana, usando uma embalagem familiar, que não choca", diz o professor Muniz Sodré, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A sua primeira experiência na televisão aconteceu em 1958, como locutor de comerciais das finadas Lojas Clipper. Quatro anos mais tarde, comprou seu primeiro horário televisivo, na TV Paulista, para fazer o Vamos Brincar de Forca. Silvio, aliás, jamais foi empregado de emissora alguma. Sempre adquiriu espaços para veicular seu programa – e seu programa nunca deixou de ser um pretexto para vender os produtos oferecidos por suas empresas. É só com olhos de negociante que ele enxerga o mundo. Isso explica por que não constam de seu repertório conceitos como função educativa da televisão, responsabilidade social dos meios de comunicação ou atrações que difundam cultura. Para muitos, trata-se de sua maior limitação.
Silvio, que faz parte da vida dos brasileiros há quatro décadas, foi ao longo desse tempo mudando de estatura. De vendedor passou a locutor, de locutor virou apresentador e de apresentador tornou-se grande empresário, cortejado por poderosos. Durante a escalada, nada de essencial se alterou em suas preferências e hábitos.

Ele não vai a festas nem a eventos. Visita o salão do cabeleireiro Jassa, para jogar conversa fora. Assiste a filmes em vídeo nos fins de semana. Vê uma média de vinte por mês. Prefere comédias. Admira muito o ator e diretor americano Woody Allen e diz que, se pudesse, o contrataria. Porque ele faz filmes bons e baratos, justifica. Silvio veste-se há quase trinta anos na mesma confecção, a Camelo, na Zona Norte de São Paulo. Usa relógios comprados em camelôs nos Estados Unidos, que custam no máximo 100 dólares. Em vez de guardar seus papéis numa pasta de couro, usa uma sacola de papelão. Não são extravagâncias de um milionário. Silvio é assim mesmo. O carro que usa com mais freqüência é um Lincoln Continental branco, de capota verde. Tem sete anos de uso e ele próprio o dirige.

Seu patrimônio pessoal, declarado à Receita Federal, totaliza 879 milhões de reais. No comando de sua rede de televisão, o SBT, Silvio conseguiu a façanha de se transformar em um adversário que incomoda de verdade a Rede Globo.

Prof. Esp. Alcenisio Técio Leite de Sá www.tecioleite.blogspot.com Cel.(98) 8849-1570

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