sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

GANDHI E SEU LEGADO

MOHANDAS KARAMCHAND GANDHI: Porbandar,2 de outubro de 1869 — Nova Déli, 30 de janeiro de 1948), mais conhecido popularmente por Mahatma Gandhi (do sânscrito "Mahatma", "A Grande Alma") foi o idealizador e fundador do moderno Estado indiano e o maior defensor do Satyagraha (princípio da não-agressão, forma não-violenta de protesto) como um meio de revolução.
O princípio do satyagraha, frequentemente traduzido como "o caminho da verdade" ou "a busca da verdade", também inspirou gerações de ativistas democráticos e anti-racismo, incluindo Martin Luther King e Nelson Mandela. Freqüentemente Gandhi afirmava a simplicidade de seus valores, derivados da crença tradicional hindu: verdade (satya) e não-violência (ahimsa).
Enquanto um número considerável de estadistas, líderes políticos e revolucionários do século XX, homens que provocaram guerras ou causaram massacres terríveis, morreram de causas naturais; Gandhi, um dos maiores pacifistas desse século, pai da independência da Índia, aquele que tudo fez ao longo da sua prodigiosa atividade para banir a violência da vida política, terminou por dessas ironias da vida assassinado a tiros em Nova Délhi em 1948.
"Eu sei que hoje em dia irrito todo mundo. Como posso acreditar que somente eu tenho razão e que todos os outros estão errados? (...) devem dizer-me francamente que eu sou velho e que não sirvo a ninguém e que não devo me intrometer no seu caminho. Se me falarem assim abertamente eu não serei mais o estorvo do mundo."
Mohandras K.Gandhi, janeiro de 1948
Em 30 de janeiro de 1948, Gandhi, o apóstolo da luta não violenta e o pai da nação indiana recém-independente, foi assassinado por um fanático. Sessenta anos depois desse trágico evento, convém destacar três legados de Gandhi que continuam a interpelar o mundo.
Ahimsa
Com base no conceito de ahimsa — ausência do medo —, Gandhi aperfeiçoou ao longo de sua longa e movimentada vida os métodos de luta não violenta, primeiro na África do Sul, onde batalhou pelos direitos dos imigrantes indianos, e depois na sua pátria, onde desafiou com sucesso o poderio do império britânico. Inspirado por um ideário religioso no qual o hinduísmo converge com os ensinamentos de Buddha e de Cristo, herdeiro do conceito da desobediência civil de Thoreau e admirador de Tolstoi, Gandhi influenciou Luther King nos EUA e Mandela na África do Sul.
Esse aspecto do pensamento gandhiano continua a atrair a atenção dos autores dos numerosos livros a ele consagrados.
Crítica radical do capitalismo
À sua maneira, Gandhi foi um crítico radical do capitalismo ao condenar a concupiscência e a corrida desenfreada pela posse de bens materiais e ao pregar a simplicidade voluntária, exaltando as virtudes de uma vida rural idealizada que pouco tem a ver com a miséria das aldeias indianas. Não obstante essa limitação, teve o mérito de levantar a questão ética “o quanto basta?”, colocando no centro do debate o autocontrole sobre o consumo.
Em artigo recente, Jared Diamond, autor do livro Colapso, observa que os habitantes do Primeiro Mundo consomem 32 vezes mais recursos naturais e produzem 32 vezes mais resíduos e gases de efeito estufa do que os do Terceiro Mundo.
Em outras palavras, os 300 milhões de americanos pesam o equivalente a 9,6 bilhões de quenianos.
Obviamente, o padrão de consumo americano não poderá ser generalizado em escala mundial. Vamos permitir que as desigualdades abissais, que caracterizam o mundo hoje, aprofundem-se em benefício de uma minoria cada vez mais opulenta e às custas de uma maioria excluída? Ou, ao contrário, devemos impor limites ao consumismo desenfreado, buscando o bom uso da natureza aliado à repartição mais equilibrada da renda, o que poderia assegurar uma vida decente para todos os passageiros da Nave-Terra, sem cair na pregação de um ascetismo exagerado?
Gandhi foi um dos pioneiros nesse debate, estreitamente relacionado com o conceito de “necessidades básicas”.

A importância do mundo rural
A maior contribuição de Gandhi, no que diz respeito ao desenvolvimento, reside na sua empatia com a maioria deserdada da humanidade — os camponeses pobres. Como mencionado, há convergência entre o pensamento de Gandhi e o de Tolstoi e dos populistas russos. Mas Gandhi não se limita à compaixão, sua visão é tão pragmática a ponto de lembrar a de Benjamin Franklin. Ambos recomendaram aos habitantes das aldeias que varressem as ruas para diminuir a poeira e, assim, evitar distúrbios respiratórios.
Ambos, sobretudo Gandhi, tinham grande sensibilidade ecológica.
Partindo do conceito da “auto-suficiência”, que não se deve confundir com autarquia (o termo é “self-reliance”, que Fernando Henrique Cardoso traduziu por “autoconfiança”), Gandhi considerava que cada um deveria produzir por si mesmo todos os bens necessários para sua frugal vida material e dispor para tanto de um conjunto de tecnologias simples. Assim, antecipou o debate sobre as tecnologias intermediárias (à maneira de E. F. Schumacher, que se converteu ao budismo) e, mais generalizadamente, sobre as tecnologias apropriadas.
Uma ressalva. No pensamento de Gandhi não há lugar para o conceito de produtividade do trabalho; vale o serviço que os homens prestam uns aos outros, o dom e o contra-dom, a generosidade e a intenção. A dimensão ética é a única importante. É verdade que Gandhi se entusiasmou pela roda de fiar melhorada — a ambar charka —, quatro vezes mais produtiva do que a tradicional. Transformou seu uso cotidiano no símbolo da independência com relação aos tecidos importados da Inglaterra e em manifestação do apoio à luta nacional. Porém, nunca lhe passou pela cabeça que a produtividade da ambar charka era tão baixa que, apesar do custo módico, a relação capital/produto era muito elevada.
A ênfase no ético levou Gandhi a posições ingênuas, exortando os ricos a administrar seus bens em proveito dos pobres e os latifundiários a distribuir voluntariamente suas terras. Os marxistas reagiram violentamente e a Enciclopédia soviética chegou a qualificar Gandhi de agente do imperialismo britânico. Porém, um discípulo de Gandhi, Vinoba Bhave, conseguiu persuadir alguns proprietários a doar terras para a reforma agrária.
Mais importante, não obstante as diferenças com as idéias de Marx, vários marxistas indianos prestaram tributo à ação e ao pensamento de Gandhi, à sua empatia com os pobres e os excluídos, à sua cruzada contra a discriminação de castas. Hiren Mukherjee e E. M. S. Namboodiripad, dirigentes do Partido Comunista Indiano, consagraram-lhe dois livros altamente respeitosos.
De maneira geral, não só a figura histórica, mas os ensinamentos de Gandhi permearam profundamente a sociedade indiana. Enquanto uma seita de gandhianos ortodoxos se fechava numa exegese estéril dos textos de Mahatma — mais de 100 volumes de escritos ocasionais e artigos diários, onde se podem encontrar tudo e seu contrário —, vários intelectuais indianos produziram uma síntese feliz e fecunda entre o legado ético de Gandhi e o modernismo de Nehru.


Em suas falas ele exibia através dos dedos da mão seu programa de cinco pontos:
•igualdade;
•nenhum uso de álcool ou droga;
•unidade hindu-muçulmano;
•amizade;
•e igualdade para as mulheres.

FRASES DE GANDY
“A única revolução possível é dentro de nós.”
“Creio poder afirmar, sem arrogância e com a devida humildade, que a minha mensagem e os meus métodos são válidos, em sua essência, para todo o mundo.”
“A minha vida é um todo indivisível, e todos os meus atos convergem uns nos outros; e todos eles nascem do insaciável amor que tenho para com toda a humanidade.”
“Não desejo morrer pela paralisia progressiva das minhas faculdades como um homem vencido. A bala de um assassino poderia por fim a minha vida. Acolhe-la-ia com alegria”
“A regra de ouro consiste em sermos amigos do mundo e em considerarmos como uma toda a família humana. Quem faz distinção entre os fiéis da própria religião e os de outra, deseduca os membros da sua religião e abre caminho para o abandono, a irreligião.”
“Acredito na essencial unidade do homem, e portanto na unidade de todo o que vive. Desse modo, se um homem progredir espiritualmente, o mundo inteiro progride com ele, e se um homem cai, o mundo inteiro cai em igual medida.”
“A não-violência não existe se apenas amamos aqueles que nos amam. Só há não-violência quando amamos aqueles que nos odeiam. Sei como é difícil assumir essa grande lei do amor. Mas todas as coisas grandes e boas não são difíceis de realizar? O amor a quem nos odeia é o mais difícil de tudo. Mas, com a graça de Deus, até mesmo essa coisa tão difícil se torna fácil de realizar, se assim queremos.”
“Mas creio que a não-violência é infinitamente superior à violência, o perdão é mais nobre que a punição. O perdão enobrece um soldado. Mas a abstenção só é perdão quando há o poder para punir; não tem sentido quando pretende proceder de uma criatura desamparada. Um camundongo dificilmente perdoa um gato que o dilacera. Compreendo os sentimentos daqueles que clamam pela punição condigna do General Dyer e outros iguais. Haveriam de esquartejá-lo, se pudessem. Mas não creio que a Índia seja desamparada. Não me considero uma criatura desamparada. Apenas quero usar a força da Índia e a minha própria para um propósito melhor.”
“Só quando se vêem os próprios erros através de uma lente de aumento, e se faz exatamente o contrário com os erros dos outros, é que se pode chegar à justa avaliação de uns e de outros.”
“O mundo não é totalmente governado pela lógica: a própria vida envolve certa espécie de violência, e a nós nos nos compete escolher o caminho da violência menor.”
“O amor é a força mais abstrata, e também a mais potente, que há no mundo.”
“O Amor e a verdade estão tão unidos entre si que é praticamente impossível separá-los. São como duas faces da mesma medalha.”
“Só podemos vencer o adversário com o amor, nunca com o ódio.”
“Só se adquire perfeita saúde vivendo na obediência às leis da Natureza. A verdadeia felicidade é impossível sem verdadeira saúde, e a verdadeira saúde é impossível sem rigoroso controle da gula. Todos os demais sentidos estarão automaticamente sujeitos a controle quando a gula estiver sob controle. Aquele que domina os próprios sentidos conquistou o mundo inteiro e tornou-se parte harmoniosa da natureza.”
“É injusto e imoral tentar fugir às conseqüências dos próprios atos. É justo que a pessoa que come em demasia se sinta mal ou jejue. É injusto que quem cede aos próprios apetites fuja às conseqüências tomando tônicos ou outros remédios. É ainda mais injusto que uma pessoa ceda às próprias paixões animalescas e fuja às conseqüências dos próprios atos.”
“A Natureza é inexorável, e vingar-se-á completamente de uma tal violação de suas leis.”
“Aprendi, graças a uma amarga experiência, a única suprema lição: controlar a ira. E do mesmo modo que o calor conservado se transforma em energia, assim a nossa ira controlada pode transformar-se em uma função capaz de mover o mundo. Não é que eu não me ire ou perca o controle. O que eu não dou é campo à ira. Cultivo a paciência e a mansidão e, de uma maneira geral, consigo. Mas quando a ira me assalta, limito-me a controlá-la. Como consigo? É um hábito que cada um deve adquirir e cultivar com uma prática assídua.”
“Aqueles que têm um grande autocontrole, ou que estão totalmente absortos no trabalho, falam pouco. Palavra e ação juntas não andam bem. Repare na natureza: trabalha continuamente, mas em silêncio.”
“Aquele que não é capaz de governar a si mesmo, não será capaz de governar os outros.”
“Quem sabe concentrar-se numa coisa e insistir nela como único objetivo, obtém, ao cabo, a capacidade de fazer qualquer coisa.”
“A verdadeira educação consiste em pôr a descoberto ou fazer atualizar o melhor de uma pessoa. Que livro melhor que o livro da humanidade?”
“Não quero que minha casa seja cercada por muros de todos os lados e que as minhas janelas esteja tapadas. Quero que as culturas de todos os povos andem pela minha casa com o máximo de liberdade possível.”
”Nada mais longe do meu pensamento que a idéia de fechar-me e erguer barreiras. Mas afirmo, com todo respeito, que o apreço pelas demais culturas pode convenientementemente seguir, e nunca anteceder, o apreço e a assimilação da nossa. (…) Um aprendizado acadêmico, não baseado na prática, é como um cadáver embalsamado, talvez para ser visto, mas que não inspira nem nobilita nada. A minha religião proíbe-me de diminuir ou desprezar as outras culturas, e insiste, sob pena de suicídio civil, na necessidade de assimilar e viver a vida.”
“Odeio o privilégio e o monopólio. Para mim, tudo o que não pode ser dividido com as multidões é “tabu”.
“A desobediência civil é um direito intrínseco do cidadão. Não ouse renunciar, se não quer deixar de ser homem. A desobediência civil nunca é seguida pela anarquia. Só a desobediência criminal com a força. Reprimir a desobediência civil é tentar encarcerar a consciência.”
“O meu patriotismo não é exclusivo. Engloba tudo. Eu repudiaria o patriotismo que procurasse apoio na miséria ou na exploração de outras nações. O patriotismo que eu concebo não vale nada se não se conciliar sempre, sem exceções, com o maior bem e a paz de toda a humanidade.”
“Orar não é pedir. Orar é a respiração da alma.”
“O silêncio já se tornou para mim uma necessidade física espiritual. Inicialmente escolhi-o para aliviar-me da depressão. A seguir precisei de tempo para escrever. Após havê-lo praticado por certo tempo descobri, todavia, seu valor espiritual. E de repente dei conta de que eram esses momentos em que melhor podia comunicar-me com Deus. Agora sinto-me como se tivesse sido feito para o silêncio.

E-Mail: tecioleite@bol.com.br Cel. (98) 8849-1570

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