segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A ARTE DE ENSINAR E A ARTE DE APRENDER

Prof. Esp. Alcenisio Técio Leite de Sá

Entre a arte de ensinar e a arte de aprender existe uma grande diferença, não obstante acharem-se ambas intimamente vinculadas. Em geral, quem começa a aprender o faz sem saber por quê; pensa que é por necessidade, por uma exigência de seu temperamento, por um desejo ou por muitas outras coisas, às quais costuma atribuir esse porquê. Mas quando já começa a vincular-se àquilo que aprende, vai despertando nele o interesse e, ao mesmo tempo, reanimam-se as fibras adormecidas da alma, que começa a buscar, chamando ao estudo, os estímulos que irão criar a capacidade de aprender.

Porém, que é o que o ser aprende, e para que aprende? Eis aqui duas indagações às quais nem sempre se podem dar respostas satisfatórias. Aprende-se e continua-se aprendendo, adquirindo hoje um conhecimento e amanhã outro, de igual ou de diversa índole. Primeiro se aprende para satisfazer às necessidades da vida, tratando de alcançar, por meio do saber, uma posição, e solucionar ao mesmo tempo muitas das situações que a própria vida apresenta. Quando se completa a medida do estudo, parece como se na mente se produzisse uma desorientação: o universitário, ao conquistar seu título, aquele outro ao culminar sua especialização. Enfim, quando essa vida de estudos está terminada, começam as atividades nas diferentes profissões, o que paralisa a atividade anterior da mente dedicada ao estudo; muitos até chegam a esquecer aquela constante preocupação que antes tinham, de alcançar cada dia um conhecimento a mais, encontrando-se como os que, tendo fi­nalizado o percurso de um caminho, não sentem a necessidade de dar um passo além, por não acharem o incentivo de um objetivo capaz de o propiciar. Eis aí uma das causas de onde pro­vém tanta desorientação nos seres humanos.

A arte de ensinar consiste em começar ensinando primeiro a si mesmo

De outra parte, os que, além dos estudos da profissão aprendem outras coisas, o fazem muitas vezes sem ter disso verdadeira consciência. Acumulam este, esse e aquele conheci­mento, mas depois – salvo exceções – não sabem o que fa­zer com eles; não sabem usá-los em seu próprio bem, nem no bem dos demais. Assim é como vêm aprendendo ao acaso, em uma e outra parte, sem ter um guia que os leve para uma meta segura e lhes permita fazer de tudo uma aprendizagem útil para si mesmos e para seus semelhantes.

Ao dar a conhecer seus ensinamentos, a Logosofia manifesta que existe uma imensidão desconhecida para o homem, na qual este deve penetrar. Dá a conhecer, além disso, que enquanto se interna nessa imensidão que é a Sabedoria, isto é, enquanto aprende, pode também ensinar, porque a arte de ensinar consiste em começar ensinando primeiro a si mesmo, ou, dito de outro modo, enquanto de uma parte o ser aprende, aplica de outra esse conhecimento a si mesmo e, ensinando a si mesmo, sabe depois como ensinar aos demais com eficiência.

Dissemos no começo que a arte de ensinar é muito diferente da arte de aprender. Com efeito, tratando-se do conhecimento transcendente, que é o que guia para o aperfeiçoamento, não se pode ensinar o que se sabe, se, ao fazê-lo, não vai refletida, como uma garantia do saber, a segurança que cada um deve dar com seu próprio exemplo. Eis aí, justamente, onde começa a tornar-se difícil a arte de ensinar, porque não se trata de transmitir um ensinamento, ou de mostrar que se sabe isto ou aquilo; quem assim fizesse, se converteria em um simples repetidor do ensinamento, em um autômato, e seu labor careceria de toda eficácia. Já é outra coisa, quando através da palavra de quem ensina, coincidente com seus atos, vão se descobrindo qualidades relevantes; e outra coisa é, também, quando, no que escuta e aprende, vai se manifestando a capacidade de assimilação; então, o que aprende, aprende de verdade, e quem ensina, ensina com consciência.


Um ensinamento pode ser transmitido bem ou mal pelo que ensina, mas, o fato de transmiti-lo mal não tem porque implicar má intenção ou má vontade; comumente é transmitido de forma errônea, por não o haver entendido bem, vivido e incorporado a si mesmo. Quem faz isto não possui, certamente, o domínio do ensinamento, que permite não esquecê-lo mais; e está longe de ser como aquele que, de posse de uma fórmula, pode reproduzir a qualquer momento o conteúdo da mesma. Esquece o ensinamento quem não teve consciência dele e, por tal causa, acha-se na mesma situação do que aprende. Estas particularidades da arte de ensinar e da arte de aprender devem ser tidas sempre muito em conta.

Quando se aprende deve-se sempre situar a si mesmo na posição mais generosa, qual seja a de aprender sem mesquinhez, a de aprender para saber dar, para saber ensinar...

Para cultivar estas artes, quando se aprende deve-se sempre situar a si mesmo na posição mais generosa, qual seja a de aprender sem mesquinhez, a de aprender para saber dar, para saber ensinar, e não com objetivos egoístas, fazendo-o para usufruto próprio, exclusivo, que é, em último termo, a negação do saber.
A Sabedoria logosófica prodigaliza-se, por isso, aos que mais tarde saberão ensinar, aqueles que terão em conta, ao fazê-lo, todos os detalhes que, correntemente, passam inadvertidos e depois travam o entendimento dos seres.
Quem é generoso ao aprender, é generoso ao ensinar; mas nunca terá que se exceder nessa generosidade, pretendendo ensinar antes de haver aprendido.
É mister conhecer a fundo a psicologia humana, para descobrir todos os subterfúgios que existem no complexo e misterioso mecanismo mental do homem.
Quando se inicia a heróica empresa do próprio aperfeiçoamento, é necessário acostumar-se a caminhar com firmeza, sem vacilações nem desacertos, buscando sempre a segurança no próprio conhecimento, e, quando aquela não existir, este deve ser cultivado, para que se consiga obter esses frutos que fazem, depois, a felicidade interna.

Trechos extraídos do livro Introdução ao Conhecimento Logosófico págs.259, 260 e 261

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