sábado, 27 de dezembro de 2008

MAUÁ E O EMPREENDEDORISMO NO BRASIL
Prof. Esp. Alcenisio Técio Leite de Sá
Este artigo tem como objetivo apresentar as principais características do empreendedor, tais como: criatividade, habilidade de assumir riscos moderados e calculados, visão sistêmica e de futuro, negociação, senso de propósito e determinação.
A primeira seção apresenta os primeiros empreendedores brasileiros e o empreendedorismo brasileiro. E na segunda seção do artigo, um estudo de caso da história de sucesso de Visconde de Mauá.

Introdução

Atualmente os pesquisadores e profissionais acadêmicos acreditam que o conhecimento do conceito de empreendedorismo e de suas características serão de extrema importância para compreender o motivo de sucesso ou insucesso de alguns empreendedores. Isso poderia ajudar a formar e preparar empreendedores ao invés de esperar que eles apareçam.
Assim, deve-se destacar a importância do ensino do empreendedorismo para o bom desempenho do empreendedor, que objetiva os seguintes requisitos: desenvolver características e habilidades chaves, promover o conhecimento sobre o trabalho de planejamento e hoje mais do que nunca, o acesso à tecnologia.
O caso do Visconde de Mauá, ora estudado, é clássico pois relata o tirocínio do primeiro grande empreendedor brasileiro numa época completamente adversa, o Brasil do Século XIX.

1. Os Primeiros Empreendedores Brasileiros
Analisando a história do Brasil, podemos observar que, na descoberta de nosso país o capitalismo no mundo já vinha contando sua história. Os portugueses e os demais colonizadores que por aqui passaram, trouxeram consigo a cultura capitalista , a idéia de mão-de-obra, troca, compra e venda e o acúmulo de capitais (riquezas). Esses colonizadores, independentes de suas origens traziam nas veias a aventura de morar em terras desconhecidas, ou a fé e a vontade de possuírem novas oportunidades.
Avançando um pouco na história e adentrando ao nascimento das primeiras indústrias brasileiras podemos verificar que o perfil do empreendedor nacional da maioria das empresas nasceu de imigrantes ou de filhos de imigrantes: primeiros os italianos e depois os alemães, durante e depois da Segunda Guerra Mundial.
Daí surgiu à cultura empreendedora, com o brasileiro sendo empregado dos imigrantes. A empregabilidade soava como segurança e isso fez com que as famílias e as escolas não preparassem o nosso “ouro” (o empreendedor brasileiro).

1.1 Empreendedorismo Brasileiro
O povo brasileiro é considerado um dos mais empreendedores do mundo. Analisando a evolução política e econômica no Brasil sob um prisma histórico, podemos detectar a existência de uma enorme disposição, uma habilidade nata e, sobretudo uma criatividade esplêndida do povo brasileiro para superar crises e dificuldades.
Muitos de nossos empreendedores criam negócios por falta de oportunidade de trabalho, os chamados empreendedores por necessidades; mas apesar de esta parcela ser significativa, o brasileiro tem um alto grau de ousadia, aceita assumir riscos e tem a proatividade para criar novas empresas. Porém, nosso empreendedor, infelizmente, ainda carece de capacitação empreendedora de qualidade, que lhe forneça a base necessária para identificar oportunidades, criar a empresa e gerenciá-la de maneira eficiente e eficaz. Devido a este atraso na especialização cultural em empreender, os brasileiros ainda utilizam-se, apenas, de seus dons, sua vontade, sua pequena economia e sua fé para montar seu negócio, faltando-lhe o essencial que é o aprimoramento. Outro aspecto é a falta de lei tributária e trabalhista mais adequada aos pequenos e novos empreendimentos; a burocracia na criação de empresas e a necessidade de mais opções de financiamentos e capitalizações efetuados de forma justa.
Para Dornelas (2001) “Temos muito a fazer e isso mostra que nossos empreendedores de sucesso são verdadeiros heróis, já que apesar disso tudo, conseguem vencer e atingir seus objetivos”. Segundo ele, grande parte dos empreendedores estão tentando sobreviver primeiro e depois competir, ousar e crescer.
“Majoritariamente, o povo brasileiro não é proletariado. Não é um assalariado com contrato regular e definido de trabalho; é autônomo, artesão, assalariado sem carteira, etc. O homem popular brasileiro tem que “se virar”. Pode ser operário em dado momento, ser artesão no seguinte, mais adiante trabalhar por conta própria ou ser “microempresário-de-se-próprio”. Pode trabalhar no lícito ou no ilícito. Para sobreviver, “se vira” e nessa “viração” ele cria sem parar, a partir de qualquer possibilidade. O nosso popular é, sempre que possível, inovador, e por isso pratica a “antropofagia”. Mas ao mesmo tempo é também conservador: não pode se dar ao luxo de abrir mão de nada. Assimila, recombina criatividade tudo o que acessou ou que conhece. Sobreviveu aos bandeirantes paulistas, aos senhores escravistas, à Primeira república, aos economistas e também sobreviverá a “fernandécada”. (...). Este homem que descrevo, aparentemente, é tudo e é nada. E torna irresistível a nossa tendência de classificá-lo como semiqualquer-coisa. Ele cria e reinventa na ponta do desenvolvimento tecnológico”. (Lessa, 2000: 61/62).

2. A História de Mauá
Aqui convém trazer como exemplo, relatos reais da nossa história que demonstram todas as características e dificuldades enfrentadas por Visconde de Mauá no Brasil.
Irineu Evangelista de Souza, empresário gaúcho, nasceu em Arroio Grande – RS (1813-1889) é considerado o primeiro empreendedor do Brasil. Tornou-se Visconde de Mauá em 1874. Do seu nascimento até sua morte em Petrópolis liderou a modernização do país.
Mauá abre em 1846 uma pequena fábrica de navios em Niterói – RJ, que no ano seguinte tornou-se a maior do país. Desse momento em diante, não parou mais. No período de 1852 a 1856 fundou empresas de navegação e criou a primeira ferrovia brasileira, entre Petrópolis e Rio de Janeiro. Montou uma companhia de gás para a iluminação da capital federal e inaugurou o trecho inicial da primeira rodovia pavimentada do país compreendendo o trecho Petrópolis à Juiz de Fora. Participou da construção de três ferrovias e da instalação dos primeiros cabos telegráficos submarinos entre Brasil e Europa. Por volta de 1860 fundou o Banco Mauá, MacGregor & Cia.
Além de empresário foi Deputado liberal e abolicionista, entrou em atrito com as autoridades imperiais por ocasião da Guerra do Paraguai. Por ser contra a Guerra, teve suas fábricas sabotadas e com isso um grande abalo nos negócios, sendo a falência do Banco Mauá em 1875, inevitável, bem como a venda da maioria das empresas. Morreu em Petrópolis sem, no entanto ter conseguido saldar todas as suas dívidas.

Conclusão
Atualmente o Brasil está passando por um processo de ajustes e reformas, dentre elas, uma readequação da legislação tributária. Com isso, acredita-se que o investimento dos empreendedores voltará a ser interessante e terá maiores chances de crescimento, tornando o ambiente no Brasil mais propício para os empreendedores. E nada mais simbólico para demonstrar nosso atraso do que o grave problema cultural da década passada: o sonho dos estudantes era ter um emprego concursado pois assim teriam a vida ganha. Muitos abdicaram de seus sonhos e acomodavam-se em seus papéis.
O programa Empretec, do Sebrae (originado de uma metodologia americana) é considerado o melhor programa de empreendedorismo pela ONU, já capacitou quase 40.000 empreendedores no país, cerca de 70% do total formado pelo método em todo o mundo. O programa Brasil Empreendedor, direcionado as micro, pequenas e médias empresas também do Sebrae, capacitou 1,6 milhões de pessoas na primeira fase, até setembro de 2000. ONGs internacionais de atuação na área, como a Endeavor, chegaram ao Brasil para fortalecer a cultura e estimular a criação de novos negócios. O projeto Inovar, da Finep surgiu para promover o investimento de capital de risco em pequenas e médias empresas de base tecnológica. Como se vê, não faltam exemplos dessa nova fase do ambiente econômico brasileiro. Mas essa profusão de iniciativas ao empreendedorismo não é a principal mudança. O que merece toda a atenção é um trabalho que já está sendo feito em universidades e agora passará a ser feita no ensino fundamental e médio. Trata-se do ensino do empreendedorismo nas escolas, que tenciona capacitar os futuros empreendedores colocando-os de forma adequada no novo e competitivo mercado de trabalho.

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