terça-feira, 27 de abril de 2010

INTERDISCIPLINARIEDADE

Numa época em que se apregoa o império do simulacro, fim do sujeito centrado, esmaecimento dos afetos, a irrupção de um eterno presente (ou o retorno do recalcado...), o fim das hermenêuticas da profundidade, seja da essência ou da aparência, fim dos grandes pares que suportavam o edifício teórico da modernidade - local/global, universal/particular, latente/manifesto alienação/desalienação – categorias que orientaram nossa cultura marxista-freudiana-existencialista – Sérgio Bairon nos convida ao tempo em que nos desafia a pensar a interdisciplinaridade, tão propalada no mètier acadêmico, sendo alvo de inúmeras publicações no campo da educação e de algumas interpretações questionáveis.

Inspirado pelo pensamento de Mikhail Bakhtin, Hans Georg Gadamer e Lúcia Santaella, Bairon afirma que a História da Cultura na contemporaneidade abriu o caminho à interdisciplinaridade não somente por ter renovado as abordagens temáticas e os problemas históricos, mas sobretudo, por ter tomado a iniciativa de ampliar e muito, a interlocução com outras áreas, a exemplo da psicanálise.

Não se trata para Bairon de uma simples ruptura com a tradição metodológica que até hoje está presente no meio acadêmico, antes, trata-se de construir uma interlocução produtiva a fim de propor outras/novas propostas interdisciplinares, tendo como meio não apenas o livro em sua versão de códice, mas também, ambientes digitais. Bairon situa-se hoje como um dos autores que mais têm produzido no campo dialogal entre hipermídia, psicanálise e história da cultura.

É, portanto, a tessitura discursiva do ciberespaço que se coloca aqui como horizonte e como limite na produção da pesquisa, reconfigurando o ambiente, o pesquisador e a pesquisa.

Assumindo a idéia de que o pesquisador é aquele que acolhe o estranho e o familiar, deslocando-se de seus territórios epistemológicos supostamente seguros e confiáveis em direção a outras fronteiras teóricas, seja para reconstruí-las, seja para derrubá-las, é que Bairon nos incita a conhecer, navegar e aprender com esse novo mundo interativo e analítico, onde cada lugar oferece objetos manipuláveis, jogos de linguagem, vozes, sons, trilhas, vídeos, filmes, palavras, animações, ícones flutuantes, que se manifestam como expressões vivas. O que se lança aqui é uma compreensão dessa nova estrutura de linguagem imagética, não-linear como fundamento para a interdisciplinaridade; assim, precisamos entendê-la como um grande jogo de imagens, um talhar em toda construção de sentido definido em sua expressividade de linguagem.

Citando o historiador G. Duby, Bairon nos adverte que cada vez mais o pesquisador olha. Olha objetos, imagens. Sabe bem que, freqüentemente, estes testemunhos são tão ou mais ricos em informação que muitos documentos escritos. (2002:122)

Para o autor, o meio educacional deve reconhecer o principio, já básico na Filosofia de que a rede sígnica que ‘se esconde’ atrás de cada aprendizado é dependente do ato de jogar como fundamento de sua existência. Nesse contexto, entrelaçam-se no processo de pesquisa e aprendizagem na rede, diferentes jogos e modos de jogar; diferentes topologias que demandam de cada um de nós, sujeitos, pesquisadores, professores, internautas ou flanneur vagando ao sabor dos ventos da net reinventar nossa subjetividade, admitindo-a como necessariamente polifônica, anunciando (prenunciando ?) novas velocidades, novas estratégias de aprendizagem, novos percursos interativos, novos afetos, potências e impotências.

Este livro aborda nosso cotidiano em todas as suas possibilidades de interpretações e manifestações hipermidiáticas. Analisando temas tão densos quanto diversificados, o autor passeia de forma leve sem se deixar cooptar pela superficialidade, sobre os fundamentos interdisciplinares da história da cultura, as relações entre fenomenologia e linguagem, as contribuições da psicanálise para uma teorização da linguagem, a relação da história com a interdisciplinaridade, a demografia, a biologia, a cultura, revelando não somente um escritor de grande conhecimento nessas áreas, mas também, um adepto do ato de velejar no oceano informacional.

Assumindo como o faz o filósofo francês Paul Virilio de que já não habitamos um lugar, mas a própria velocidade, Bairon nos leva a surfar em um texto móvel, elástico, fecundo, sem as armadilhas vulgares utilizadas a pretexto de seduzir o leitor, isto é, chavões, frases de efeito, termos bombásticos. Bairon foge do previsível, legando aos leitores a possibilidade de um fim de tarde de leitura na rede...feita de tecido e algodão...

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