NÃO ALIMENTE O MAL
Paula Abreu
O bem e o mal são
formas que a consciência pode escolher assumir em um determinado momento.
Diferentes níveis de consciência resultam em diferentes definições de bem e de
mal. Assim, podemos interpretar que o mal depende do nível de consciência de
cada pessoa. O que define quem vai agir de forma boa ou má são justamente as
escolhas que esse indivíduo faz. Mas é importante saber e aceitar que, ainda
que você tenha crescido sob forças externas que moldaram suas escolhas na
direção do bem, o potencial para o mal também vive em você, em algum lugar.
Ainda que como uma sombra, algo que você finge que não existe, reprime ou varre
para debaixo do tapete.
Existem algumas
condições que facilitam a liberação das energias da nossa sombra: a remoção do
senso de responsabilidade, o anonimato (alô, internet!), um ambiente
desumanizador, exemplos de mau comportamento dos colegas, níveis rígidos de
poder, preponderância do caos e da desordem, impunidade, isolamento e a
mentalidade de “nós” versus “eles”. Na presença dessas condições ou das
circunstâncias adequadas (na verdade, inadequadas), a sombra de qualquer um,
inclusive a nossa, se exterioriza.
O desafio para quem
trilha um caminho de espiritualidade – e para qualquer pessoa – é aplicar
compaixão e amor nas situações difíceis, de violência. Normalmente, elas fazem
o amor se contrair, se transformando em medo e ódio. Diante do mal, nos
sentimos impotentes, porque não podemos resolver esse problema em grande
escala. Essa sensação de impotência gera em muitos o sentimento de que o bem
não vai vencer. Mas, para lutar contra o mal, precisamos olhar para ele com
interesse, e não horror. Quando o mal começa a acontecer em massa (como temos
visto em tantos conflitos no mundo), pessoas cujas escolhas costumavam em geral
pender para o bem agora começam a participar dos elementos do mal.
Quando a sociedade
começa a acreditar que todos os problemas estão sendo causados por “eles”
(versus “nós”), os “intrusos”, aí, sim, o mal começa a se propagar ainda mais
depressa. Porque, mesmo na ponta em que deveriam estar as pessoas mais
“conscientes” e, portanto, mais inclinadas a tomar decisões na direção do bem,
começam a se multiplicar as forças e circunstâncias que moldam as decisões que
pendem para o mal. O resultado é que nossa capacidade de escolher com mais
consciência fica prejudicada. Enquanto acreditarmos nos elementos do mal,
manteremos ativa a nossa participação nele.
Você também está
fazendo escolhas que pendem para o mal ao não se sentir responsável, ao se
aproveitar do anonimato na internet, ao seguir a onda dos outros sem muita
reflexão, e ao ver a situação como uma guerra de “nós” versus “eles”.
Se você acredita na
raiva “inofensiva” (aquele comentário odioso no Facebook, sabe?) e no
julgamento dos “outros”, você está, sim, participando nos elementos do mal.
E, agora que você está
consciente disso, repense a sua escolha.
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